terça-feira, 27 de julho de 2010

Sobre liberdade


Há algum tempo me lancei em uma aventura em busca de autoconhecimento. Uma aventura sem volta. Uma busca por gostos, cheiros, texturas, sons, textos, cores, tudo o que fosse do meu agrado. Uma experiência envolvendo pessoas, lugares. Me tornei uma espécie de cientista da vida. Criei uma premissa para todos os experimentos, fazer tudo o que tivesse vontade. Me senti livre para ousar. Aceitei uma liberdade nova, onde julgamentos não faziam parte e muito menos compromissos.

Descobri que só gosto de usar salto quando é para causar alguma impressão. Descobri que vermelho é definitivamente minha cor predileta. Descobri que boca é o que eu mais gosto nos homens. Descobri que inteligência é muito sexy (se acrescentar um pouco de mistério então, nem se fala). Descobri que gosto de um bom vinho e de cervejas fortes. Descobri uma intensidade muito minha. Descobri ainda que por mais que eu goste muito de MPB, o clássico rock’n roll sempre terá mais espaço em meu coração.

Por falar em coração, é engraçado como um coração recém-liberto se comporta. Desde me declarei livre, acabei encontrando um espaço vazio nesse pedacinho do corpo da gente que dizem que comanda os amores. Descobri que tenho um certo prazer masoquista em paixões platônicas. Explico: digo masoquista, pois estas paixões são as que mais incomodam, doem e nos fazer criar ilusões que parecem reais de mais. Mas também descobri o valor real daqueles amigos que não nos deixam na mão nunca. Nem que seja para sentar do lado e não falar nada.

Foram três anos para encontrar meus gostos, meus cheiros, minhas texturas, meus sons e tudo mais que elegi como meus favoritos. E hoje atingi uma liberdade completamente diferente da que me impus em um passado recente. Me encontro neste instante livre de verdade. Livre de vícios e vínculos do passado. Livre da procura intensa por quem eu sou, dependente apenas de uma intensificação do que já aprendi sobre mim mesma. Livre de verdade de conceitos antigos e, mais importante que tudo, livre para encarar o que há por vir.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Mudança

- É você...
- Sim... desculpa, vim buscar aquele quadro roxo que você pintou pra mim.
- Ah sim... Está ali em cima do sofá. Amanhã eu me mudo.
- Você não ia me falar nada?
- Não, melhor assim.
- Bem, se você acha.
- Ia mandar pelo correio algumas coisas que ficaram. Sem remetente.
- Você não vai me dizer pra onde vai?
- Não. Quer plástico bolha para embalar o quadro?
- Acho que é melhor.
- Tá ali no canto. Aproveita e pega a caixa que tem seu nome em cima. Pode levar.
- Você ia se desfazer de tudo isso?
- Não. Já falei que ia mandar o correio entregar.
- O quadro não...
- O quadro não.
- O que você ia fazer?
- Mandar pra galeria. Quem sabe alguém iria querer. Entenderia.
- O quadro é meu. Você não tem esse direito.
- Achei que você não o queria mais. Tem bolo de laranja na cozinha... caso você queira levar um pedaço.
- Obrigado.
- Escuta... vou apagar seu telefone e seu e-mail...
- Não adianta nada! Você não vai esquecer de qualquer forma.
- Vai saber! Quem sabe se eu mentalizar bem forte antes de dormir minha memória apague...
- Mas por quê?
- Porque sim...
- Não dá pra entender...
- Dá sim... eu só não quero mais te achar.
- Mas por quê?
- Porque você me acha, se você quiser...

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Texto escrito em novembro de 2009