terça-feira, 3 de maio de 2011

Era outono, quase inverno

Era outono, quase inverno.

De repente ela estava lá, com o carro parado na beira da praia. Alguns anos antes era freqüente o carro parado na beira da praia. Seus irmãos costumavam ir surfar. Os seus pais ficavam observando os dois no mar e ela costumava sentar na pedra, olhar pro nada.

Mas hoje ela estava sozinha. Ela descalça na areia fria, a praia vazia e o mar logo em frente. O sapato de salto que usara durante a noite ficara no carro. Usava um casaco preto por cima de um vestido florido tomara que caia.

Ela quis sentir aquela brisa fria que só existe na beira do mar em dias de outono, quase inverno. Aquela brisa que acaricia a pele e embaraça os cabelos. Queria pisar no chão frio, sentir a areia entre os dedos.

O cheiro do mar no frio é outro. É diferente do verão. No verão vem um cheiro de gente, protetor solar, criança. Já no frio, outono quase inverno, é um cheiro só de mar. Fresco e salgado.

E depois de uma noite cheia de gente, tudo o que ela queria era esse cheiro fresco de liberdade. Solidão. Engana-se aquele que pensa que a solidão é ruim. “Solidão só é ruim para quem não sabe apreciá-la”, pensou.

Sentou ali de frente pro mar. Maquiagem já borrada, uma lata de cerveja já meio quente na mão e o dia começando a nascer.

Tomou seus últimos goles de cerveja, andou até a beira do mar, molhou os pés e respirou bem fundo. E por um instante ela desejou dividir esse momento com alguém. Sentiu-se estranha. Pela primeira vez em anos, sentiu-se sozinha.

Virou as costas entrou no carro e foi embora.