quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Uma sala vazia


Recebi um pacote pelo correio. Sem remetente nenhum. Um envelope em branco escrito apenas meu nome. Dentro do envelope estava uma caixinha preta de madeira com uma caveira desenhada da tampa. Uma caveira igual a essas que apareciam nos desenhos animados nas garrafas de veneno, só para mostrar o perigo daquilo. Estava com a madeira desgastada, como se tivesse sido abandonada há algum tempo e tinha um cheiro estranho de mar.

Enchi meu olho de lágrima e comecei a chorar feito uma criança quando abri. Era mesmo aquela caixinha que eu havia me desfeito... Que em um dia qualquer fui à praia e joguei no mar. Mandei pra bem longe a chave daquela sala vazia. 

Tranquei por receio de reviver o que existia ali dentro. Tanto sentimento. Um tanto alegria e um outro tanto de dor. Textos escritos nas paredes, trechos de músicas favoritas rabiscadas no teto e pinturas tristes no chão...

Então um medo enorme preencheu cada pedaço do meu corpo. Medo de abrir aquela sala e notar que de repente tudo ainda estaria ali. Eu tinha certeza que tudo haveria desbotado, mas... E se estivesse ainda tudo confuso e forte ali dentro?

Sentei no chão com a caixa na mão. Deve ter passado uma meia hora, mas juro pareceu uma eternidade. Respirei fundo e me enchi de coragem. Com pernas trêmulas girei a chave. Entrei na sala vazia quase que de olhos fechados, sem querer ver o que me esperava ali. 

Abri os olhos e chorei de volta, mas dessa vez foi de alegria. Consegui respirar direito pela primeira desde que recebi o envelope. A sala parecia como nova (exceto pela poeira). Teto e paredes brancas. E o chão sem nenhuma pintura. Tudo ali estava claro e leve. Limpo. Nem um resquício de passado. Abri as janelas e deixei o sol entrar. 

Virei as costas com um sorriso no rosto e deixei a sala aberta. Porta e janelas escancaradas. Tudo limpo para que eu possa sim pintar o chão de volta caso eu queira. Escrever novos trechos prediletos de novas músicas prediletas e novos textos bonitos. E deixar entrar quem for bem vindo.

3 comentários:

  1. :)
    Olha que eu percebi essa abertura viu Janinha!
    Não tinha ainda percebido com a mente consciente, mas meu lado intuitivo já tinha percebido! Depois desse texto tudo ficou tão óbvio!
    Gostei muito desse! :)

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  2. Que bom que gostou Fá!!
    Fica tudo tão mais simples quando a gente abre portas, né? Fica tudo mais leve!
    Esse texto é uma referencia a este aqui: http://umtantodissoaqui.blogspot.com.br/2009/09/os-textos-bonitos-escritos-com-giz.html
    Beijo!!!

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